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Qualidade da água

Um dos aspectos mais intensamente explorados durante o primeiro período diz respeito aos parâmetros físico-químicos da água que influenciam o metabolismo de peixes, invertebrados e plantas. Tencionou-se, para cada um dos parâmetros considerado, definir valores ideais para o desenvolvimento óptimo da fauna e flora, assim como compreender as estratégias mais eficazes para atingir esses valores e conseguir a sua estabilidade. Embora possam ser apontadas algumas diferenças nas condições da água consoante o biótopo escolhido, podem ser generalizadas várias necessidades básicas dos seres vivos aquáticos no que respeita à qualidade da água.
A qualidade da água é, portanto, um critério essencial para o êxito na manutenção de peixes. É imprescindível que se façam análises de água exactas, que têm vindo a tornar-se cada vez mais fáceis nos últimos anos, através do desenvolvimento dos diversos reagentes, dos testes feitos com líquidos, fitas ou varas e dos aparelhos electrónicos de medida, que podem ser utilizados rapidamente e sem problemas. Apresentam-se de seguida as principais características da água, que podem ser medidas e determinadas consoante as necessidades dos peixes:
·        Os gases dissolvidos na água: oxigénio (O2) e dióxido de carbono (CO2).
·        A dureza da água, isto é, a percentagem de minerais (percentagem de sais) da água e o tipo destes.
·        O pH, ou seja, o grau de acidez da água.
·        A quantidade de substâncias orgânicas, ou seja, de produtos metabólicos azotados (proteínas, amoníaco, amónia, nitrito, nitrato), provenientes de restos de comida, urina e fezes dos peixes, cadáveres de pequenos seres vivos. 


1.     Gases dissolvidos na água

Dos gases dissolvidos na água, o oxigénio (O2) e o dióxido de carbono (CO2) são essenciais para todos os habitantes do aquário.

Oxigénio
Todos os animais e plantas consomem oxigénio e expelem dióxido de carbono. O oxigénio passa do ar para a água durante o dia, principalmente através da fotossíntese das plantas. As plantas também necessitam de oxigénio, mas produzem diariamente cerca de cinco vezes mais oxigénio do que precisam. Como as plantas apenas libertam oxigénio quando iluminadas, há fortes quebras da quantidade de oxigénio entre o dia e a noite. A quantidade de oxigénio no aquário é mais baixa de manhã, vai aumentando ao longo do dia e volta a baixar muito durante a noite.
Outros dados importantes acerca do oxigénio:
·        Quanto mais se agitar a superfície da água, mais oxigénio (do ar) pode ser absorvido pela água. Enquanto na natureza, isso acontece devido ao vento e às correntes, no aquário o mesmo efeito é obtido através da filtragem e ventilação, daí a importância da instalação de um filtro com uma potência de bombeamento de água adequada ao volume do aquário e suficiente para criar um fluxo considerável de água à superfície.
·        O oxigénio dissolve-se muito melhor na água fria do que na água quente. Os peixes de águas frias e movimentadas necessitam, por isso, de muito mais oxigénio do que os dos charcos estagnados aquecidos pelo sol.
·        O oxigénio não favorece apenas os peixes e plantas, mas também as bactérias, que transformam os produtos azotados segregados pelos peixes (amoníaco, amónia) em substâncias menos nocivas (nitrato).
·        A água dó aquário de manutenção nunca deve ter menos de 4 mg de oxigénio por litro.
·        Se a quantidade de oxigénio se mantiver (pelo menos durante o dia) abaixo de 4 mg/I, isso pode dever-se a diferentes causas: ao facto de haver demasiados peixes e poucas plantas no aquário, a uma quantidade excessiva de alimento ou à negligência em relação à substituição da água, provocando uma acumulação de detritos no aquário e nos filtros, deixando de ocorrer a eliminação de azoto.
·        Quando há grandes carências de oxigénio, os peixes vão até à superfície para respirar.

Dióxido de carbono
O dióxido de carbono (CO2) também se dissolve na água. Este gás provém não apenas do ar, mas também é um produto metabólico dos peixes, plantas e bactérias. O dióxido de carbono resulta do processo de respiração dos seres vivos, e é libertado quando as bactérias dos filtros extraem compostos azotados (resultantes da urina e das fezes dos peixes e da deterioração de restos de comida). O CO2 é simultaneamente a principal substância nutritiva das plantas, sem o qual estas não podem assimilar e produzir o oxigénio de que os peixes e bactérias dos filtros necessitam para viver.
Outras informações importantes sobre o dióxido de carbono:
·        Um nível demasiado elevado de dióxido de carbono pode ocorrer principalmente de manhã num aquário muito cheio de peixes e plantas.
·        O facto de a água estar suja, haver demasiados detritos no fundo e o filtro estar muito sujo também contribuem para elevar a quantidade de dióxido de carbono.
·        Uma forte circulação de ar, agitando muito a superfície da água, faz com que se liberte CO2.



2.     A dureza da água

As águas na natureza contêm sais minerais que se libertam do fundo em maior ou menor quantidade. O que constitui a dureza da água são os sais de metais alcalino-terrosos, principalmente os de cálcio e de magnésio. Diz-se que a água que contém muitos sais de cálcio e magnésio é dura e que a que contém poucos é mole ou macia.
Em aquariofilia, a dureza da água é dada em graus de dureza, geralmente °dH. Um grau dH corresponde a 10 mg de óxido de cálcio ou magnésio por litro de água. Os químicos utilizam actualmente para a dureza geral (ou total) (GH) da água (medida igualmente em graus de dureza °dGH) o conceito de «soma dos sais de metais alcalino-terrosos». No aquário, os peixes, as plantas e as bactérias do filtro desenvolvem-se melhor a uma dureza global entre 8 e 16°dGH. 
Dureza carbónica e dureza não carbónica
A dureza total (GH) da água divide-se em dureza carbónica (KH) e dureza não carbónica (NKH). A dureza carbónica é composta por carbonatos e bicarbonatos (de cálcio e magnésio). A dureza carbónica pode ser eliminada através da fervura da água pois, durante esta, os sais depositam-se, deixando de ser registados nas medições. Por isso, a dureza carbónica é por vezes descrita como «dureza temporária». A «dureza permanente», que ainda pode ser medida após a fervura da água, é a dureza não carbónica, composta por sulfato de cálcio e de magnésio. Como tal, este tipo de dureza pode ainda ser denominado «dureza sulfatada».
A KH está relacionada com a capacidade de tamponamento da água do aquário: os iões carbonato ligam-se aos iões H+ (que determinam o pH do aquário). Quanto maior for esta ligação maior será o pH. Menor concentração de iões carbonato resulta numa queda do pH. Caso sejam necessárias correcções no valor de KH, elas devem ser realizadas lenta e cuidadosamente, monitorizando continuamente as alterações no pH e KH.
A dureza carbónica tem mais efeito sobre o bem-estar dos peixes do que a dureza não carbónica. Algumas espécies de plantas estão em condições de retirar dióxido de carbono dos carbonatos e bicarbonatos, quando encontram pouca quantidade na água. Isso provoca uma variação tão grande do pH que os peixes podem morrer. Por isso, é particularmente importante controlar a dureza carbónica em aquários com plantas. A medição da dureza carbónica deve ser feita cerca de uma vez por semana. A água demasiado dura pode ser tornada menos dura através da troca de iões ou da utilização de um filtro de turfa. A água muito pouco dura pode ser salinizada mediante a adição de produtos para aumentar a sua dureza.

Tabela de classificação da dureza geral água, em função da concentração de carbonato de cálcio, a cujo valor corresponde um certo grau da escala ºdGH.


3.     O pH

O pH é a medida de iões hidrogénio (H+). Um aumento destes iões resulta numa queda do pH (água mais ácida), enquanto um decréscimo resulta num aumento do pH. O pH, a 25ºC, é medido numa escala de 0 a 14. O valor neutro é 7, enquanto valores abaixo correspondem a águas mais ácidas e valores acima de 7 mais básicas. As mudanças no pH são uma causa comum da morte dos peixes em aquário. Os peixes podem adaptar-se à maioria dos níveis de pH, dentro de certos limites, mas não se adaptam bem a mudanças bruscas de valores. Isso ocorre porque a relação entre o pH e a concentração de iões H+ é definida por uma função logarítmica. Isto significa que uma mudança no pH em 1 valor implica uma concentração 10 vezes maior em H+ e, por isso, água 10 vezes mais ácida.
A água quimicamente pura é neutra e tem um pH igual a 7, desde que não entre em contacto com o ar. Se isso acontecer, o dióxido de carbono do ar mistura-se com a água e forma-se ácido carbónico, que faz baixar o pH para cerca de 5,3. Através da ventilação, é possível libertar o CO2 e elevar o pH.
A maioria dos peixes tropicais necessita de um pH entre 7,5 e 8,5. Em valores abaixo de 5,5 e acima de 9, os ácidos e bases provocam danos nos peixes, que se fazem sentir através da vermelhidão intensa ou mucosidade e cauterização da pele. Os peixes precipitam-se de um lado para o outro no aquário e roçam-se no fundo e nas pedras, e podem morrer se os valores de pH não forem rectificados. As bactérias nitrificantes experimentam uma redução do crescimento e acção abaixo de um valor de pH de 6
O pH deve, portanto, ser continuamente controlado, nomeadamente aquando da substituição parcial regular da água. Se se encher o aquário com água corrente alcalina, o pH aumenta e, como tal, a amónia inofensiva transforma-se em amoníaco, que é venenoso.
Em algumas circunstâncias, o aumento do pH também pode ser provocado por plantas, se houver muito pouco dióxido de carbono dissolvido na água. O pH pode subir 1 ou mesmo 2 unidades, o que significa que a água se torna 10 ou 100 vezes mais alcalina do que os peixes estão habituados. Em aquários com muitas plantas, deve, por isso, ser introduzido CO2, para evitar esses aumentos de pH, que podem ser mortais para os peixes.
 O pH pode ser avaliado recorrendo a kits com líquidos de medição ou com um aparelho eléctrico.
Ao ajustar o pH num aquário, é necessário considerar a dureza de carbonatos da água (KH). O pH em água dura é mais difícil de ajustar, porque ele volta rapidamente ao valor inicial, enquanto em águas mais macias é mais facilmente ajustável, permanecendo no valor pretendido. É recomendável alterar o pH suavemente para reduzir o stress dos peixes. O ideal será manter o pH dentro de valores estáveis.
Para reduzir o pH, para peixes de águas da floresta tropical, a melhor solução é geralmente a filtragem com turfa. É possível provocar uma descida do pH por introdução de CO2, mas isso requer maior cuidado.
Pode aumentar-se o pH através do aumento da dureza carbónica. Este procedimento é raramente necessário. Um dos erros nos cuidados a ter com o aquário deriva da descida do pH em ambientes extremamente ácidos, quando, por exemplo, um aparelho de introdução de CO2 bombeia demasiado dióxido de carbono na água, ou quando se efectua uma acidificação descuidada em água muito pouco dura.

Escala de valores de pH, sua correspondência com o carácter mais ácido ou básico de uma solução e seus efeitos na maioria dos peixes de água doce. Exemplos de soluções com os diferentes valores de pH.

  

4.     Os ácidos húmicos e a turfa

As águas naturais não são acidificadas apenas por ácidos carbónicos inorgânicos, mas também por ácidos húmicos orgânicos que se formam a partir de folhas, troncos e restos de plantas apodrecidos. Os ácidos húmicos preparam as substâncias nutritivas para as plantas aquáticas: quando há minerais e elementos-traço associados a ácidos húmicos, as plantas podem absorvê-los melhor.
Em muitos casos, a água das chuvas, especialmente a das regiões de floresta tropical, contém muito mais ácidos húmicos do que ácidos carbónicos. As zonas com maior quantidade de ácidos húmicos podem ser encontradas nas águas negras da região do Amazonas, cujo pH pode ser inferior a 4, e em alguns rios da África Ocidental. Os peixes e plantas de águas da floresta tropical são, portanto, adaptados à água rica em aminoácidos e necessitam de um suplemento de ácidos húmicos quando criados em aquário.
Estes ácidos orgânicos contêm taninos, que fortalecem a pele dos peixes para que os parasitas não se alojem nela tão facilmente.
A filtragem com turfa constitui o melhor método de acidificação. É desaconselhável a acidificação com ácido sulfúrico ou ácido nítrico, dado que a introdução de ácidos inorgânicos fortes pode fazer baixar o pH para valores que põem em risco a vida dos peixes, principalmente em água pouco dura.

Turfa preparada para ser utilizada como material filtrante em aquários de floresta tropical.


 
5.     Os compostos de azoto
O azoto é o um elemento fundamental na constituição das proteínas presentes nos corpos de todos os seres vivos. As águas puras naturais quase não contêm compostos de azoto. Porém, no aquário - que contém muito mais habitantes, em comparação com uma quantidade de água de iguais dimensões na natureza - encontram-se muitos produtos derivados de proteínas, os compostos azotados, que resultam da decomposição de restos de comida, plantas, bactérias, caracóis e peixes e das suas fezes e urina. Estes elementos podem facilmente atingir uma concentração perigosa. Os compostos azotados podem ser medidos e controlados mediante kits com indicadores de líquidos.
Amoníaco e amónia
O amoníaco é um veneno forte. Em contrapartida, a amónia é quase inofensiva. A abundância de  uma destas substâncias em relação à outra depende do pH da água em que elas se formam. Em água ácida forma-se principalmente amónia, e em alcalina amoníaco. Portanto, na água do aquário, habitualmente ligeiramente ácida, os peixes não correm o risco de morrer envenenados pelo amoníaco. Na água alcalina, a amónia inofensiva transforma-se em amoníaco venenoso.
Como as plantas aquáticas absorvem amónia, elas podem ser utilizadas para purificar a água do aquário.
Em aquários bem tratados, encontram-se em média concentrações de amónia de 0,5 mg por litro, o que constitui uma quantidade completamente inofensiva para os peixes. É impensável considerar valores mais elevados, consoante o pH se mantenha em ambiente ácido ou ligeiramente alcalino (valor máximo do pH: 8).
Quando se forma amoníaco na quantidade entre 0,2 e 0,6 mg por litro, os peixes começam a vir à superfície para tentar respirar, pelo que é possível que se tome o envenenamento por amoníaco por uma carência de oxigénio. Nesse caso, deve efectuar-se uma substituição parcial da água do aquário, que deve ser feita lentamente.

Nitritos e nitratos
O amoníaco e a amónia são transformados pelas bactérias Nitrosomonas em nitritos altamente tóxicos, e pelas bactérias Nitrobacter em nitratos inofensivos. Esta «nitrificação bacteriológica» consome muito oxigénio. Quando há carência de oxigénio, as bactérias actuam demasiado lentamente ou não actuam de todo, acumulando-se nitritos no aquário, o que poderá conduzir à morte dos peixes por envenenamento. Se a água estiver saturada de nitratos, a reacção pode decorrer no sentido inverso, devido à carência de oxigénio: então voltam a produzir-se nitritos e, a seguir, amónia e amoníaco.
O envenenamento por nitritos processa-se do mesmo modo que o envenenamento por amoníaco, a carência de oxigénio ou o excesso de CO2: os peixes nadam para um lado e para o outro, tentam respirar ar à superfície e morrem se a água não for tratada.
A quantidade de nitritos da água não deve ultrapassar os 0,2 mg por litro. Em concentrações acima de 0,5 mg, os peixes começam a ir respirar à superfície. Os peixes suportam melhor os nitratos. Se for possível, a água do aquário não deve conter mais de 20 mg de nitratos por litro. No entanto, como a água potável pode conter até 50 mg por litro, geralmente é necessário aceitar valores mais elevados; porém, os peixes não suportam valores acima de 150 a 200 mg por litro. Tal como acontece em relação à amónia/amoníaco, também neste caso se deve proceder à substituição parcial regular da água.
A água corrente saturada de nitratos pode ser tratada por osmose invertida, de forma a poder ser utilizada. Se após a substituição da água a concentração de amoníaco/amónia e nitratos voltar a ser elevada, isso significa que o aquário tem demasiados peixes ou que o filtro é muito pequeno. O mesmo se aplica se a quantidade de nitritos for permanentemente elevada.
Muitas vezes, também se encontra nitritos em aquários que acabaram de ser cheios de água, cujos filtros ainda não funcionaram durante muito tempo e ainda não contêm bactérias suficientes. 

Ciclo do Azoto num aquário de água doce.


6.     Fosfato

Os animais necessitam de fosfato para a formação do esqueleto, e as plantas precisam dele para o seu metabolismo. Não há carência de fosfato no aquário, pois este surge na água do aquário em grandes quantidades através dos restos de comida. Se for utilizada água corrente, podem  obter-se maiores quantidades de fosfato através de uma substituição da água, visto que a água corrente pode conter até 1 ,6 mg de fosfato por litro de água. Se possível, a água do aquário não deve ter mais de 0,5 mg por litro.



7.      Cloro

O cloro é acrescentado à água corrente a partir da central hidráulica, para desinfecção. Felizmente, este elemento pode ser detectado imediatamente, devido ao seu cheiro forte. O cloro constitui um veneno potente para os peixes, que morrem por cauterização das brânquias. A água do aquário nunca deve ter mais de 0,1 mg de cloro por litro. O cloro pode ser eliminado introduzindo a água com cloro em vasilhas grandes e agitando de vez em quando durante algumas horas. Outra alternativa é filtrar o cloro por carvão activado